Efeitos adversos oculares em uso de certas drogas

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Efeitos adversos oculares em uso de certas drogas

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O homem, dentro do contexto amplo da medicina, é um ser indivisível e não se pode compartimentalizá-lo dentro das diversas especialidades médicas. Ele tem de ser visto e examinado como um todo, e neste sentido é muito importante conhecer a interação de diversas drogas que, eventualmente, possam trazer conseqüências para a visão.


A disfunção erétil, por exemplo, tem sido largamente tratada com inibidores da fosfodiesterase 5 (PDE-5), comercialmente conhecidos como Viagra®, Cialis®, Levitra®, os quais atuam no mecanismo de liberação de ácido nítrico, produzindo o relaxamento da musculatura lisa do pênis, vasodilatação e conseqüente maior afluxo de sangue para o corpo cavernoso do mesmo, permitindo melhor desempenho da ereção.

O efeito visual mais notado pelos usuários destes medicamentos se relaciona a percepção de uma visão mais brilhante, que alguns definem como "uma luminosidade azulada". Isto se deve a interferência destas drogas no metabolismo dos receptores retinianos, onde ocorre a transformação da energia luminosa em impulsos elétricos que se transmitem ao longo do nervo óptico até o córtex cerebral. Até o presente momento não há estudos que comprovem se tais manifestações possam ser prejudiciais para a visão.

Vários trabalhos científicos, entretanto, vêm levantando a suspeita (ainda não comprovadas) que tais drogas poderiam provocar perda da visão uni ou bilateral por conta de uma insuficiência vascular na cabeça do nervo óptico. É importante ressalvar que os trabalhos científicos até então publicados enfatizam que o risco de ocorrência deste evento parece baixo, mas a agência norte-americana Food and Drug Administration (FDA) recomenda que os pacientes que já sofreram previamente alterações no nervo óptico, maiores de 50 anos, portadores de doença cardíaca, principalmente se têm histórico de infarto de miocárdio, diabetes, pressão arterial alta, colesterol elevado, tabagista redobrem cuidados ao usarem tais medicamentos. O FDA alerta os usuários de tais drogas para sua imediata suspensão e exame com o oftalmologista caso experimentem súbita diminuição ou perda de visão em um ou em ambos os olhos, e nos Estados Unidos as propagandas destes produtos em revistas e jornais leigos enfatizam de forma séria este aspecto.

Anti-espasmódicos à base de derivados de beladona, atropina, homatropina, também merecem atenção especial, pois podem estar contra-indicados em pessoas portadoras de glaucoma de ângulo estreito ou fechado. Nestas situações a droga pode provocar uma midríase (pupila dilatada) elevando-se a pressão intra-ocular a patamares bastante elevados e desencadeando um quadro de glaucoma agudo que vai exigir um tratamento de urgência oftalmológica.

O uso de cortisona, tanto na forma sistêmica quanto tópica podem provocar o aparecimento de catarata ou de glaucoma. É fundamental um controle das condições do cristalino e da pressão intra-ocular sempre que se usar tais medicamentos, principalmente sob a forma de colírios. Mas até a forma de spray para controle de asma pode provocar a formação de catarata. Geralmente estas cataratas são da forma subcapsular posterior, exigindo cuidados extras por parte de cirurgião-oftalmologista se estiver indicada a cirurgia para sua remoção.

Anti-maláricos (hidroxicloroquinas) representam outro grupo de drogas potencialmente tóxicas para a mácula, região nobre responsável pela visão central, e que exigem periódicas avaliações oculares com medição da acuidade visual e confecção de campos visuais. Usadas no tratamento de diversas doenças reumatológicas, os pacientes em uso de tais drogas devem se submeter periodicamente a um check-up ocular com o objetivo de suspende-las de imediato caso sejam constatadas anormalidades maculares.

Também colírios a base de betabloqueadores para o controle de glaucoma, nunca devem ser administrados a pacientes portadores de asma, bronquite, cardiopatias. O risco de um choque anafilático é elevado. Tais medicamentos, mesmo tópicos, podem provocar intensa bradicardia, levando um cardiologista que não seja informado de seu uso a indicar a implantação de um marcapasso.


Em conclusão: não há medicamentos sem efeitos contralaterais. Sua administração está sempre baseada em conceitos de risco/benefício. O médico, juntamente com o paciente, é quem está mais apto para avaliar corretamente esta equação.


Dr. Miguel Padilha
Dr. Miguel Padilha
Membro Titular do Conselho Brasileiro de Oftalmologia