O glaucoma sob novo enfoque

Created by Pressfoto - Freepik.com
Cuidados com os olhos durante a prática esportiva
08/03/2017
DaVinciVitruvian_man
Efeitos adversos oculares em uso de certas drogas
08/03/2017
Exibir tudo

O glaucoma sob novo enfoque

glaucoma
 

Considerada uma das doenças mais traiçoeiras para a visão, o glaucoma, se não diagnosticado a tempo e tratado de forma adequada, pode levar à cegueira irreversível pela destruição das células retinianas e do nervo óptico.


A comete cerca de 4% da população acima dos 40 anos e é mais comum entre pessoas da raça negra, portadores de alta miopia, em uso de esteróides. Se na família houver casos já diagnosticados, urge redobrar a atenção com seus descendentes no exame precoce daquela pressão. Um exame periódico para se checar a pressão dos olhos já é um passo importante na prevenção desta doença e é fundamental o uso correto dos colírios hipotensores quando prescritos pelo oftalmologista.

Mas só isto é o bastante? Atualmente novos conhecimentos estão nos ajudando a entender melhor o por quê desta doença evoluir de formas distintas em diferentes indivíduos. Um deles se refere ao fato recentemente constatado de que a medição isolada da pressão intraocular não é suficientemente segura. Ela deve levar também em consideração um dado extremamente importante que é a espessura da córnea. Hans Goldmann, o inventor do tonômetro que leva seu nome, quando estabeleceu padrões normais para esta pressão em 1957, o fez em função de córneas com espessura em torno de 520 micra. Com a procura cada vez maior de pessoas buscando a correção cirúrgica de seus problemas visuais (miopia, hipermetropia, astigmatismo) com o excimer laser, vários pesquisadores puderam observar que a espessura da córnea pode variar dramaticamente desde valores como 350 até 650 micra, induzindo a falsas medidas. Isto pode explicar porque pacientes com pressões aparentemente normais, acabam por desenvolver severas formas de glaucoma, rotuladas como glaucoma de baixa pressão.

Por outro lado, novas tecnologias vem sendo incorporadas em nossa rotina diária, que nos permitem detectar com bastante precocidade a presença da doença. Através de sensíveis aparelhos computadorizados, podemos avaliar a quantidade de perda de fibras nervosas em sua fase inicial e com isto estabelecer de forma mais correta o momento adequado para começar a tratar o glaucoma. Do mesmo modo, softwares especiais nos possibilitam exercer um rigoroso controle da doença através da campimetria ou então através de fotografias estereoscópicas.

Finalmente, de forma diversa de anos atrás, quando se dispunha de apenas uma ou outra medicação para reduzir a pressão intraocular, hoje dispomos de inúmeras drogas muito mais potentes e que possibilitam tratar a doença de forma co-reguladora. Ou seja, o objetivo não se traduz em apenas baixar a pressão intraocular, mas também atuar de forma eficaz e permanente no aumento do fluxo sanguíneo de irrigação da cabeça do nervo óptico. A isquemia deste acaba levando a uma atrofia irreversível deste importante condutor dos impulsos elétricos ao sistema nervoso central.


Sem dúvida alguma, começamos este novo milênio conhecendo melhor este terrível inimigo e reunindo um armamentarium muito mais adequado para enfrentá-lo e reduzir os índices de cegueira ainda presentes neste imenso país por sua causa.


Dr. Miguel Padilha
Dr. Miguel Padilha
Membro Titular do Conselho Brasileiro de Oftalmologia